A vida presta, afinal
- Mariana
- 24 de jan.
- 3 min de leitura
Tem palavras que nos impactam. E tem palavras que impactam muitas pessoas ao mesmo tempo. Ah o poder das palavras! Eu sempre fui apaixonada por literatura. E não é à toa que escolhi o meu ofício. Meu trabalho tem a ver com escutar as palavras dos outros, atentar a como eles as usam. A ordem, a cadência, a entonação, as pausas. Mais ainda, os tropeços. Aprendi e confirmo todos os dias que é por aí que o sujeito do desejo comparece. É assim, com palavras, claro, mais amplamente que isso, é através da linguagem que o inconsciente dá mostras.
Voltemos as palavras que impactam. Fiquei reflexiva e busco escrever para dar conta disso, depois que compartilhei um post com as palavras emocionadas ditas por uma atriz quando da indicação para concorrer ao prêmio por sua atuação num filme, quais sejam: A vida presta!
Claro, estou falando da maravilhosa Fernanda Torres vencedora do Globo de Ouro de melhor atriz por sua atuação no belíssimo filme “Ainda estou aqui” dirigido por Walter Salles e que ontem foi indicado para concorrer ao Oscar. Feito gigante para nosso país, sem dúvida, sobre o qual muitas e assertivas palavras já foram escritas e faladas. Mais um detalhe: a vida presta vem na mesma frase em que a atriz lembra que está sendo indicada 25 anos depois de sua mãe ter alcançado o mesmo feito e com o mesmo diretor. Foi em um vídeo no seu instagram. Mais precisamente disse: “Gente, nomeada ao Golden Globe! Estou aqui no glam com Rebeca, em Londres. Hoje tem sessão aqui, uma loucura! (...) E, Walter, 25 anos depois dele com a minha mãe, realmente a vida presta!” Que história linda essa de transmissão!
Trata-se da transmissão de mãe para filha de uma paixão e de um ofício feito com excelência. Trata-se da transmissão de um laço. Trata-se da transmissão da história de uma família, de uma mulher com uma força extraordinária e muito inspiradora, Eunice Paiva. Aliás, chamou -me atenção em uma entrevista com Marcelo Rubens Paiva, autor do livro que deu origem ao filme, que nas conversas com o diretor ele havia deixado claro que o seu desejo era que o filme retratasse a história de sua família e de sua mãe, o enfoque não era para ser um filme sobre os anos da ditadura brasileira, ainda que sobre esse ponto ainda precisemos como nação falar e muito. Achei genial: trata-se, afinal, da transmissão da história de um país, aspecto sem dúvida também presente, mas na singularidade da história daquela família. No singular, no caso a caso e ainda assim com a relevância do contexto. Nada mais analítico!
O fato é que a vida presta viralizou para usar uma palavra bem atual! E, claro, se virou post e coisa repetida é porque aí tem! Há algo importante na repetição é o beaba que aprendemos desde Freud.
A vida presta, afinal, porque há transmissão, há encontros, há amor e há palavras. Palavras com as quais sempre podemos ressignificar, reinventar, sonhar para frente. Disse Eunice Paiva a seus filhos em um contexto que poderia ser só de adversidade “Sorriam. Nós vamos sorrir.” Eu também compartilhei um post com essas palavras. Elas são muito potentes. Mas isso já daria outro escrito com mais e mais palavras...
24 de janeiro de 2025
Mariana Hollweg Dias
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